"A Igreja necessita de Santos Modernos, Santos do século XXI, que apreciem corretamente as coisas puras do mundo"
quarta-feira, 4 de julho de 2012
terça-feira, 3 de julho de 2012
Jovens ateus
Mário
Lúcio Marchioni
“A fé de
minha infância se desenvolveu com normalidade. Crer em Deus e em seu Filho
Jesus Cristo continuava sendo para mim algo normal, uma verdade inquestionável.
Apesar disto, na medida em que ia crescendo, durante minha adolescência, o
conhecimento da história da igreja e seus desacertos me fez desconfiar cada vez
mais da instituição. Outro aspecto fundamental de minha vida é que sempre fui
intelectualmente muito curioso. Minha curiosidade e assombro diante da natureza
sempre foram manifestos e se concentravam no fato de que sempre me sobressaí
nas matérias científicas do colégio. Quando tinha 16 anos, me pareceu que a
visão científica do mundo era incompatível com a crença em Deus. Encontrei
respaldo para tal conjectura no fato de que fui conhecendo algumas frases
filosóficas impactantes cuja interpretação realizei com a pressa escolar
própria de alguém que nunca mostrou interesse especial pelas humanidades no
colégio e, portanto, nunca estudou a obra daqueles aos quais eram atribuídas
ditas afirmações. Concluí: ‘Definitivamente, Deus não existe. Deus é uma
invenção para suportar o sofrimento produzido tanto por outros homens como pela
própria vida.’”
Relatos como
este têm se repetido com certa frequência nos últimos tempos. São adolescentes
e jovens que não apenas relaxam na vida religiosa ou deixam de frequentar
espaços religiosos, mas que fazem questão de se proclamarem ateus. E anunciam
sua descoberta ou decisão a seus pais ou a algum padre. Nem se dão conta de que,
na verdade, estão também professando uma fé.
Por que tem
ocorrido este fenômeno? A questão é, sem dúvida, complexa e envolve situações
particulares. Mas dá para dizer que algumas situações têm se repetido.
Uma delas é a
descoberta de que a história da Igreja tem episódios tristes e lamentáveis. E é
verdade que isto existe. Mas uma visão superficial da história (que é o que
muitas vezes se encontra nos livros ou nos programas escolares) ofusca o fato
de que estes episódios não são tudo e não permite ver o quanto o cristianismo
contribuiu com a formação da sociedade. Quando se estuda a Inquisição, por
exemplo, esta costuma ser apresentada como uma atuação implacável da Igreja
contra seus opositores, sem se dar conta de o quanto os tribunais da Inquisição
foram usados não pela Igreja, mas por interesses políticos; sem se dar conta de
que há princípios adotados e valorizados hoje e que foram estruturados pela
Inquisição, como o princípio de que ninguém pode ser julgado sem ter
conhecimento daquilo que se alega contra si.
Outra
situação é a crença de que a ciência é capaz de explicar tudo, não sendo mais
necessário invocar a ideia de divindade, que seria algo superado e irracional.
Trata-se mesmo de uma crença, porque um olhar objetivo para as pesquisas
científicas mostra quanta coisa fica sem explicação. Atribui-se a Louis
Pasteur, a quem se devem tantos avanços da medicina, a afirmação de que “pouca
ciência afasta de Deus, muita ciência aproxima dele”. De fato, quem se
aprofunda na investigação científica percebe que a ciência não tem resposta
para muitas questões e que não se trata apenas dos limites atuais da pesquisa,
mas de limites da própria ciência.
Uma terceira
situação é a repetição de frases de efeito. Ou seja, toma-se uma frase que
causa impacto e que parece resolver o assunto. São, no entanto, frases tiradas
de seu contexto, de maneira que quem as repete nem sabe o que seu autor quis
mesmo dizer. Além disto, são frases de um ou outro pensador (em especial, o
filósofo alemão Friedrich Nietzsche), sem levar em conta tantas outras
manifestações sobre o mesmo tema.
Dá para notar
que estas situações mencionadas envolvem sempre uma compreensão apressada e
resultante de certo deslumbramento. Características típicas da adolescência e
da juventude. O que fazer, então? Isto é coisa que passa? É bem possível.
É claro que
não há receitas prontas para lidar com uma proclamação de fé ateia. Apesar
disto, algumas indicações podem ser úteis para pais, padres, catequistas e
outros educadores.
É preciso ter
profundo respeito pela pessoa que se manifesta ateia, mesmo que a situação
cause espanto ou desgosto. Não se veja este momento como um fracasso na
educação na fé. Não esquecer a recomendação de estar sempre pronto para dar a
razão da própria esperança, fazendo-o com mansidão e respeito (cf. 1Pd
3,15-16). Para isto, é preciso aprofundar a compreensão e a vivência que se tem
da fé. Lembrar que, com frequência, o reencontro com Deus dependerá de um
amadurecimento pessoal que poderá ser longo. Cabe proporcionar o tempo e os meios
para isto, como a possibilidade de esclarecimento das dúvidas e angústias que
afligem a pessoa. Rezar para que a pessoa reencontre o caminho da fé é uma
obrigação diária, principalmente para os pais.
A propósito:
o relato que abre este artigo é de Juan Manuel Pérez, um colombiano que contou
sua experiência no livro “Do ateísmo à fé cristã” (sem tradução em português).
Como ateu, ele decidiu estudar biologia com o propósito de provar como a
ciência era suficiente para desvendar os mistérios da vida. Confrontado com
certas questões, percebeu que só com Deus havia explicações convincentes.
Depois de longa busca, retornou ao catolicismo. Hoje é um irmão religioso
jesuíta.
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